domingo, 4 de janeiro de 2009

O Mestre Yang Luchan

Há uma estória clássica do Tai Chi Chuan que conta:

"Quando o Mestre Yang Luchan veio para a capital, Pequim, sua fama espalhou-se por todas as partes. Havia sempre uma sucessão de artistas marciais que vinham para demonstrar seu respeito. Um dia, quando ele estava sentado em meditação, aproximou-se um monge sem ser anunciado. O Mestre levantou-se para recebê-lo, notando que o monge tinha estatura muito forte e quase dois metros de altura. O monge saudou-o, expressando a sua grande admiração. O Mestre já estava a ponto de responder humildemente, quando o monge voou para cima dele, atacando-o com os punhos. O Mestre recolheu ligeiramente o peito e bateu com a palma direita no punho do monge. Como se fosse atingido por um raio luminoso, o monge foi atirado para além de um biombo, com seu corpo ainda em posição de ataque, com punhos fechados. Depois de um longo tempo o monge, com uma aparência bastante solene, desculpou-se, dizendo: “Eu fui extremamente rude”.

Mestre Yang convidou-o a ficar para uma conversa e descobriu que ele era um lutador de Shaolin; seu nome era Ching-te. O monge abordou-o com inumeráveis perguntas. Ele então perguntou: “há um momento atrás, por que fui surpreendido e incapacitado de demonstrar minha bravura?”“. Mestre respondeu: “foi porque estou sempre em guarda”. Em seguida, o monge inquiriu: “como pode ser capaz de reagir tão rapidamente”?”“. E Mestre disse: “isto é o que se chama emitir energia como lançar uma flecha com um arco”. O monge respondeu: “eu tenho vagado por muitas províncias, sem encontrar perícia igual à sua. Eu lhe imploro que me ensine o segredo da leveza e sensitividade do Tai Chi”.

Mestre não respondeu à última questão, mas viu um pardal entrar voando pela janela e circular em torno dele. Ele rapidamente apanhou-o em sua mão e disse ao monge: “este pássaro é muito dócil e vou me divertir um pouco com ele”. Colocou o pardal em sua mão direita, cobrindo-o gentilmente com a esquerda. Ao remover a mão esquerda, simultaneamente a ave bateu as asas, querendo voar. O Mestre usou a técnica de “subitamente encobrir, subitamente revelar” e o pardal foi incapaz de voar. Isto porque, independentemente da espécie, todo pássaro deve primeiro aplicar energia com os pés, para que possa levantar vôo. Os pés do pardal foram incapazes de encontrar um lugar para exercer pressão, pois a mão que lhe serviria de apoio abaixava gradualmente. Novamente, Mestre cobriu-o e soltou-o, sem que ele fosse capaz de voar. Depois da terceira vez, o monge, tomado de admiração e espanto, exclamou: “sua arte é verdadeiramente miraculosa!”. O Mestre sorriu e lhe falou: “dificilmente isto merece ser chamado de miraculoso. Ao praticar-se o Tai Chi por certo tempo, o corpo todo se torna tão leve e sensitivo, que o peso de uma pena não pode ser adicionado sem colocá-lo em movimento e uma mosca não pode pousar sem o mesmo efeito”. O monge curvou-se profundamente em respeito, ficou hospedado por três dias e depois partiu."

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